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Giovana, minha filha, viajou em busca de seu sonho. Europa e Polônia fazem parte do itinerário. Daqui, lhe escrevo cartas. De lá, em seu blog, relata a cada dia, tudo o que vem acumulando em lembranças.

Este espaço é aberto a todos que entram aqui para compartilharem este gostoso sentimento da SAUDADE! Que, por alguma razão, têm uma afinidade em lerem "Cartas para quem se ama". De verem em linhas, sentimentos que lhes são tão familiares. E, a mim, será um enorme privilégio poder ler suas impressões e comentários.

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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Hoje é dia da Dona Estela!

Décimo dia – 27 de Dezembro
Hoje é niver da vovó Estela! Seriam 75 anos!
Interessante carregarmos junto da gente pessoas que nos são tão importantes... Mesmo que não as tenhamos conosco, sua presença é tão forte que raro é passar um dia de nossas vidas sem mencionarmos algo relacionado a ela ou nos lembrarmos de alguma cena, ter um “deja vú”, fazer ou falar algo e, em seguida, dizer: “Mas é bem Dona Estela, hein!”. Frases assim viraram chavão entre a gente. Clichês! Aqueles nossos flagras de nos pegarmos repetindo manias da vovó que, antes, criticávamos, achávamos engraçado e que, agora, fazemos...

Dias destes, na janta, nós em casa e aquele molho hiper gostoso de um frango que eu fiz, com caldo, creme de leite sobrando na panela, um restinho de arroz, o Gabri me pediu para servi-lo para arrematar o que havia. Não tive dúvida! Disparei: “Quer o arroz A La Dona Estela???” Tradução: Arrozinho regado ao molho “raspado” na panela! Ou seja, joga-se o arroz dentro da panela de molho, mistura-se bem e joga-se tudo no prato! Quem já não fez isso???

Outras coisinhas mais nos mantém ligados a ela. Aquela velha mania de ficar arrumando coisas pros outros fazerem, se atreverem-se a ficar parados... Traduzindo: não conseguir ficar parado! As indiretas da vovó quando queria que fizéssemos algo pra ela... “Ah, bem que podia fazer isso” ao invés de um “Faz isso para mim?”.

Tivemos a felicidade de passarmos um tempo bom com ela. Quando nós mesmos nos desvencilhamos de raízes muito fortes de brabeza, de exigências, de eficiências e cobranças. Aprendemos a ter bom humor. Muito bom humor! Ficamos craques em tirarmos um sarrinho nela só pra dar uma “quebrada” nela, para ela descontrair, dar aquela risadinha dela, tímida, para rir depois e relaxar. Quantas vezes fizemos isso? É verdade que naquela época, tivemos a influência de alguém que passou por nossas vidas e que, com o seu jeito brincalhão, pegava no pé da vovó, da gente. Era preciso sairmos da forma quadrada em que vivíamos! Pra aprender a relaxar. A sermos felizes com pequeninas coisas. Isto valeu! Ficamos impossíveis com a vovó! Enchíamos tanto o saco dela que, creio eu, ela desistiu de ficar séria com a gente. Pediu arrego. Relaxou. Entrou na dança! Ela mesma já aprendera a brincar também. “Quem te viu e quem te vê!” diríamos a ela...

Uma vez, lembrando como um amigo brincava com sua mãe já doentinha também, brinquei com ela, quando a vi andando bem devagarinho... “Aonde vai com tanta pressa, Dona Estela?” ela riu e se divertiu...

São pequeninas coisas que enriquecem nossos dias presentes. E que depois, lá na frente, num amanhã que, pensávamos, não chegaria nunca, resgatamos quase sem querer e ficamos sorrindo ao percebermos o quanto temos as pessoas que amamos com a gente! Falo de cenas. De gestos, manias. Fora pequenos objetos que teimo em manter comigo, numa forma de tê-la um pouco mais comigo ainda... Uma blusa de lã que ela mesma tricotou. A mantinha que ela costurou pra você, de enxovalzinho de bebê. Sua necessaire de levar suas coisinhas para a sauna. Umas anotações com sua letra. Saias que ela costurou e que eu me apossei e usei e uso ainda, quando me aperta a saudade dela.

A Dona Estela está impregnada em nós. Nas chaticezinhas dela. Nas manias que nem gostaríamos de ter. Nos feminismos dela. Mas está presente também em suas atitudes fortes, determinadas de não se entregar tão fácil assim ao que não conhece. A ter fibra. A ser guerreira. Não se entregar à doença. Não se dar por vencida. A superar o medo. A amolecer diante da necessidade de depender de outro de novo. No caminho inverso que toda criança passa, de se tornar independente, de ter de abrir mão de seu orgulho e depender de nós para pequeninas coisas. Como ir ao banheiro, tomar um banho, comer, levantar-se, apertar um botào de tv... Quem de nós tiraria isto de letra? Definhar na doença e manter-se lúcida, brigando com a morte até o fim? Quem de nós suportaria ver-se enfraquecer, resignar-se a tantas e tantas bolinhas coloridas de tantos remédios pra isso e pra aquilo e não se entregar?

Penso eu, que foi naquela conversa que tive com ela, de manhã, onde falei de cada uma de nós, suas filhas, sobre o que cada uma estava fazendo, que ela descansou. Falei-lhe sobre o que eu via que já havia reservado a nós. Sobre o caminho que cada uma já estava seguindo, da minha certeza que Deus estava cuidando de cada uma, que eu sabia que Deus reservava coisas boas a nós, a mim. Para ela ficar tranqüila. Descansar porque estávamos “encaminhadas”. Que ela não precisava mais se preocupar com a gente. E que ela iria pra um lugar onde, depois, todos nós os encontraríamos. Que ela sabia que havia uma vida após e que lá, todos nós estaríamos juntos, de novo, com corpos saudáveis e que seria eterno...

Sei que muita gente duvida e ironiza da fé dos outros. Há quem ridicularize dizendo que a fé é só uma forma de amenizar o pavor de morrer e acabar. Medo da sua própria finitude. Do vazio. Do acabar. Que é a forma mais estúpida de fugir da realidade. E então eu pergunto: se a realidade é viver o vazio das formas, das relações, dos sentimentos finitos, do breu que se segue a morte, prefiro a fé que me faz crer que lá na frente, a qualquer hora ou dia, eu poderei encontrar com todas pessoas que amei, amo e que já se foram. E que meus filhos, meus amores, meus amigos também estarão lá, um dia! Crer numa vida após a morte não é um consolo tolo. É um privilégio da fé. Esta mesma que é ironizada por quem pensa que sabe tudo e morre de medo por saber que não sabe nada!

Este dia, vinte e sete de dezembro, sempre será um dia especial para eu me lembrar da vovó Estela. Da minha mãe. Dona Kiyoko! Como se eu precisasse de um dia somente para me lembrar dela... Mas é o dia em que ela nasceu há 75 anos atrás! E foi aí que minha história começou, de certa forma.

Gi, você sabe que era a queridinha da vovó, não sabe? Tenho certeza que ela estaria vibrando com cada passo seu. Que antes da sua partida, daríamos um jeito de você ir se despedir dela, como sempre fazíamos antes de cada viagem nossa! Passaríamos lá e ela viria até o portão, com o seu jeitinho, ficaria nos olhando, acenaria, talvez corresse lá pra dentro querendo te trazer alguma coisa dentro de uma sacolinha de plástico, lógico, e ficaria ali sonhando ir junto, dentro dos sonhos que sonhou pra ela, que não realizou, mas que abriu portas para que nós realizássemos por ela. Ela foi uma sonhadora. Uma revolucionária para sua época. Ela incutiu em nós coisas que levamos sempre e pra sempre. Coisas boas, manias bobas. Mas valores, garra e determinação! Pense que ela, se pudesse, te diria com orgulho, que está muito feliz por você, assim como em cada uma das conversas que você tinha com ela, quando eu te ligava e você estava em Maringá e ela em casa. E eu a colocava pra falar um pouquinho com você... Só pra ela matar a saudade. Eu a via sorrindo e pela primeira vez dizendo, meio sem jeitinho, um “amo você!”. Você, filha, é especialmente especial! Amoleceu a carinha dura da vovó que nãos sabia dizer estas palavras a ninguém. Tem um mundo pela frente! Só posso te acenar e dizer sorrindo: “vá!”, como ela mesma faria...

7 comentários:

  1. Susi, como é bom essas raízes. Todos temos nossas Estelas, e como me lembrei da minha, ao ler sobre a sua. Texto emocionante, leva o meu salve! Já dizia o cantor (...)a fé não costuma falhar.

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  2. Mãe é sempre mãe, Ricardo... Fica e vai com a gente...

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  3. MEU DEUS ..
    QUANDO CHEGUEI AQUI SENTI QUE IRIA SER PUNK ..COMO DIZ MEU FILHO VINY ..MINHAS LAGRIMAS NAO PARAM DE CAIR E EU VOU DESIDRATAR SRSR MAS COMO É BOM SENTIR ESSE AMOR DE VOCES DA FAMILIA ..DA VIDA ...AS HISTORIAS DAS AVÓS DAS PESSOAS DOS QUE JA FORAM E DEIXARAM SUA MARCA ..SUA HISTORIA DE VIDA SEU RASTRO PRA GENTE PODER MARCAR E SEGUIR ONDE ELES PASSARAM NÃO É MESMO SUSI?
    SABE ESSES NOSSOS ENTES QUERIDOS FIZERAM COM A GENTE O QUE JOAZINHO DA FÁBULA DE JOAO E MARIA FEZ
    MARCOU COM RASTRO NOSSO CAMINHO PARA SEMPRE PODER VOLTAR LA NA MEMORIA E ENCONTRAR DE ONDE VEM NOSSAS VIVENCIAS E NOSSAS HISTORIAS..E NOSSO RUMO E PRUMO.
    NOSSO EIXO SERAO SEMPRE ELES E NOSSO GPS SERA SEMPRE NOSSO AMOR
    O MAIS LINDO E PURO AMOR QUE VEM DIRETO DA FONTE
    DENTRO DO CORAÇÃO
    ENTENDO AGORA POR QUE DA GI SER ASSIM
    FELIZ DE VOCE DE TER TIDO ALGUEM ASSIM
    E COMO VOCE BEM DISSE
    MÃÉ É SEMPRE MÃE
    SEMPRE PRA SEMPRE

    BJS
    OTILIA

    OBRIGADA POR TER IDO LÁ FOI UM GRANDE PRAZER...

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  4. É mãe, você não sabe brincar de escrever! Hahaha.. sempre consegue tirar algumas (ou várias) lágrimas de mim..

    É inevitável - E QUE BOM - sempre lembrarmos do nosso berço, de quem fez e faz parte de nossas vidas!

    Com certeza a vovô foi uma guerreira, até o final de seus dias viva! Uma atleta, musicista, batalhadora, independente se ver cada dia mais dependente de nós, e nem assim desistir, é algo que só quem estava junto dela poderia sentir e entender o porque das irmãs Saito e da família ser assim!

    Eu tenho orgulho (aquele orgulho bom, não o ruim..) de dizer que você é minha mãe, do pai que eu tenho, e do incrível irmão e pessoa que o Gabri é!

    Eu infelizmente convivi pouco com o vovô mas esse era outro que com certeza deixou marcas fortes do espírito aventureiro em nossos sangues!

    Ainda bem que as pessoas não 'duram' só enquanto estão vivas, mas sim enquanto nós quisermos que elas estejam conosco!

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  5. Otilia, mães entendem-se bem uma a outra exatamente por terem dentro de si este amor indecifrável!
    Tenho certeza que me conpreende bem...

    Fico lisonjeada pela sua visita! Eu Acabo ficando ausente nos blogs que sigo, justamente por estar numa fase mais escrevendo do que lendo! Mas vou conciliando!!!

    Bju

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  6. Gi... vamos sempre ter a vovó conosco. É o amor que nos faz vivos quando nào estamos e que manté conosco quem já se foi!

    O vovô, como você mesmo viu, depois, tem presença forte na gente! Este sangue viajeiro é dele! E nós carregamos isso muito forte com a gente!

    Que bom que é assim! Que sabemos que o que conta é o legado que temos deles!

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  7. Gi... Impossível não lembrar da vovó, né? Tenho certeza que quando você passa por locais de beleza arquitetônica, musicais, coisas com carinha de dona Estela, na hora sorri e lembra-se dela! Perceba, disse SORRI! Pois o amor é assim: nos faz sorrir, ainda que a pessoa amada não esteja mais consoco...

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