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Giovana, minha filha, viajou em busca de seu sonho. Europa e Polônia fazem parte do itinerário. Daqui, lhe escrevo cartas. De lá, em seu blog, relata a cada dia, tudo o que vem acumulando em lembranças.

Este espaço é aberto a todos que entram aqui para compartilharem este gostoso sentimento da SAUDADE! Que, por alguma razão, têm uma afinidade em lerem "Cartas para quem se ama". De verem em linhas, sentimentos que lhes são tão familiares. E, a mim, será um enorme privilégio poder ler suas impressões e comentários.

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sábado, 21 de janeiro de 2012

As coisas mais importantes

Trigésimo sexto dia – 22 de janeiro
Querida...

As coisas mais importantes, hoje sei, são tão transparentes, invisíveis. Mas intensamente visíveis e claras aos nossos olhos. Quanto mais me deixo levar no curso normal do rio, menos imponho meu remar, mais admiro o navegar, posso olhar em volta, enxergar as cores do agora, o cheiro, a garoa fina que respinga do rio, o barulho da água e a sensação que invade meu corpo. Precisou passar muita água debaixo de meu barco para eu deixar de remar contra a correnteza! Forçar paradas em lugares já pisados em terra e tentar, inutilmente, permanecer em portos que ficaram para trás. Hoje, sei: o tempo estabelece tempos. Tempo de parar, tempo de seguir, tempo de parada em cada porto e tempo de deixar o porto...

Fomos ensinadas a remar, remar e remar. Somos uma família de mulheres fortes! Muitas mulheres. Poucos homens. Que apenas na sua geração retornaram em número maior do que de mulheres. E não aprendemos a descansar. Não aprendemos a parar e apreciar. Com isso, ouvíamos bem o nosso compasso, mas muito pouco o passo ao lado. Falamos muito, ouvimos pouco, fizemos demais, abafamos quem poderia ter feito e realizado conosco. Dura sentença? Não! É apenas uma constatação que acode em tempo, tanto espanto, tanta andança e “fazeção” de coisa! A bandeira de “tudo fazer” foi carregada como se fosse sinônimo de responsabilidade e eficiência. E arrogância misturou-se a sabedoria. E quisemos ser ONI-tudo! Onipotente, onipresente, onisciente. Em suma: DEUS!

Mulher tem destas coisas! Abraçar para si a responsabilidade por tudo ser, não ser, por tudo dar certo, ou errado. Quer fazer tudo, estar em todo lugar, saber tudo ou, pior: pensa que sabe de tudo, acima de todos... Não é que seja pretensão ou maldade. Mistura-se com a tal responsabilidade. A vontade de fazer tudo dar certo. De proteger, de zelar pela família, de consertar casamento, marido, filho, empregada, trabalho, o dono do mercado, os preços altos, os vizinhos, a escola do filho, o próprio corpo que nunca está do jeito que quer. Eterna questionadora, sempre inconformada com o que não concorda. Briga até o fim pelo que acha direito. Defende vorazmente seus entes queridos. Sua, corre, canta, encanta, multiplica seus braços para poder abraçar todas as coisas que quer fazer ao mesmo tempo. Pensa que dará conta de tudo. E, às vezes, sucumbe! Surta, adoece, se deprime, chora, perde o marido, o namorado, o emprego, a diarista lhe dá as costas e os canos, ouve respostas mal educadas, ou recebe olhares irônicos, perde reuniões da escola do filho, percebe burburinhos com seu nome, fragmenta-se, cai do barco, quase se afoga.
Então, passamos por um redemoinho de sensações! Não sei exatamente se mais se parece com um furacão, no qual caímos dentro e onde rodamos, rodamos perdidas sem eixo próprio e tonteamos ou se é um furacão cá dentro de nós, que varre tudo, todas as nossas tão bem elaboradas estruturas, nossos tão bem estabelecidos conceitos, os móveis são todos desarrumados, tudo posto fora do lugar e pra fora. Derruba nossas certezas! Ficamos atônitas! Não reconhecemos mais o lugar de onde viemos. Ou seria certo dizer que nossas vendas que nos cegavam são, finalmente, retiradas de nossos olhos para, só entào, enxergarmos as coisas como, de fato, elas são?

Fico com a segunda opção! O que vivo neste momento justifica meu pensamento! Tudo sempre esteve bem claro. Eram meus olhos que não enxergavam! E meus braços teimosos insistiam em remar quando já não era mais necessário. Hora de aportar! Descer a âncora. Pausar! Energia despendida à toa, prosseguir! O rio sabe bem a hora de correr em forte correnteza, de passear em calmaria, de dar porto seguro e de levantar a âncora e seguir! As coisas mais importantes são sempre visíveis a quem quiser ver. Basta ter olhos atentos, humildade para saber que nunca se sabe tudo, que a vida ensina e que, muitas vezes somos nós que erramos o caminho e não o contrário! Quantas vezes pensamos que a vida é cruel e injusta conosco. Que perdemos pessoas, amores e que o passado retém as melhores coisas, o melhor tempo da gente, os capítulos mais importantes de nossas vidas? Melhor, mesmo, é o tempo presente! Viver o que se tem no hoje é a sábia decisão de quem caminha com os pés no chão. Não se trata de desistir de sonhos. Mas de saber diferenciar o “sonhar” do “viver o sonho”. Perseguir sonhos é tão belo como saber reconhecer o sonho que temos nas mãos. Não com a vestimenta que insistimos em por, com os nomes e itens que nós achamos imprescindíveis, mas com a cara e coração que nos surpreendem e nos conquistam a cada dia.

Permitir-se encantar-se com o simples, o trivial, o diário é um ato tão ousado quanto sair em busca de coisas fenomenais por aí afora! É repaginar a própria vida. E dar ao olhar uma nova chance de enxergar o que não se via. E ao coração, a nova chance de amar. Livre de rótulos, livre de cordinhas presas ao passado, livre de sombras e medos que não pertencem a este tempo. É, finalmente, jogar pesos desnecessários da embarcação. Deixar em cada porto, o peso seu. Para seguir leve...

Tenho certeza que me compreende...

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